As DCNT causam morbidade e mortalidade significativas, correspondendo a 70% dos óbitos, atingindo, principalmente, os brasileiros com maior vulnerabilidade social e econômica. Na última década, observou-se uma redução de 20% nos óbitos, o que pode ser atribuído à ampliação da Atenção Primária à Saúde (APS), melhor atendimento e redução do tabagismo.
As DCNT, dentre elas as doenças cardiovasculares e câncer, apresentam fatores de risco modificáveis e não modificáveis. Dentre os fatores de risco modificáveis estão o tabagismo, o consumo exagerado de bebida alcoólica, sedentarismo e obesidade. Nos fatores não modificáveis estão a idade (com aumento considerável de sua prevalência após os 50 anos), a história familiar e a predisposição genética.
A partir do Projeto Genoma Humano (PGH), dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), foi possível observar maior entendimento da predisposição genética nas DCNT. Com isso, é possível identificar dentre os indivíduos com DCNT aqueles que possuem alterações genéticas que os predispõem às doenças, o que permite a adoção de estratégias de prevenção primária, reduzindo a exposição aos fatores de risco, e de prevenção secundária, com o diagnóstico das doenças.
No Brasil, a publicação do Projeto Genomas Brasil, do Governo Federal, com o mapeamento genômico dos brasileiros, proporciona uma oportunidade para o reconhecimento dos fatores genéticos no desenvolvimento das DCNT. Além disso, a união entre as informações do genoma com as informações clínicas, de história familiar e moleculares contribui para o estabelecimento da Saúde de Precisão, que é definida como “conjunto de técnicas que utilizam informações clínicas e biológicas do indivíduo ou de subgrupos da população para personalizar o cuidado em saúde”.
O projeto tem como objetivo coletar dados genômicos e clínicos para realizar a construção de um banco de dados voltado para a oncologia e cardiologia. Essa ação possibilitará o desenvolvimento de melhores estruturas de atenção personalizada, uma vez que poderão sustentar pesquisas a longo prazo, em concomitância com o desenvolvimento tecnológico, que auxiliarão na descoberta de novas formas de tratamentos e seguimentos clínicos.
Nesse sentido, as mudanças acarretarão a possibilidade de incorporar no SUS a prática de Medicina Genômica e de Precisão de forma simples e objetiva. Com o conhecimento e avanços da Genética e Genômica, todos os níveis de atenção deverão ser articulados a esse modelo de atenção para garantir o acesso dos usuários do SUS de todo o território nacional.
Com a educação de profissionais desde a atenção primária quanto a simples aspectos genômicos, a identificação de possíveis indivíduos e famílias em risco de doenças genéticas será facilitada e o encaminhamento para outros níveis de atenção com uma maior complexidade de atendimento poderá ser feita. Tal ação poderá garantir a realização de atitudes preventivas para indivíduos que já possuem riscos maiores devido ao seu genótipo e, além disso, garante um melhor cuidado para aqueles já acometidos por doenças com clínica avançada.
Sabe-se que são poucos os serviços que oferecem acesso aos atendimentos especializados em genética e genômica no Brasil, sendo eles concentrados em regiões específicas do país. Com ações educativas e a possibilidade do uso de estratégias educativas como a Educação a Distância e um repositório on-line de conteúdo, a descentralização do atendimento voltado à Medicina Genômica poderá ser alcançada uma vez que todas essas ações promovem a qualificação de profissionais.
Para uma melhor compreensão, o projeto será estruturado através de quatro subprojetos:
A realização deste estudo tem a intenção de construir registros de dados moleculares, clínicos e epidemiológicos para realizar análises e verificar possíveis relações e até mesmo auxiliar pesquisas futuras na Medicina Genômica e de Precisão.
Espera-se que seja finalizado um banco de dados estruturado e completo da população de diferentes regiões brasileiras para auxiliar no desenvolvimento de novas descobertas na oncologia e sobretudo que os dados tragam possibilidades de demonstrar o quão importante se faz a articulação de tecnologias avançadas do atendimento secundário e terciário, com a atenção primária.
Os resultados deste estudo esclarecerão o diagnóstico molecular em milhares de pacientes permitindo melhor manejo clínico-terapêutico das patologias envolvidas. Em casos de suspeita de acometimento familiar, os afetados serão rastreados, independente da manifestação de sinais e sintomas associados à doença, e encaminhados aos sistemas de saúde. Igualmente importante, nos casos negativos, o aconselhamento genético diminuirá o grau de ansiedade individual e familiar associado à incerteza diagnóstica.
Os resultados deste estudo determinarão de forma inédita o risco genético populacional para uma doença complexa com alta prevalência como a hipertensão arterial. O risco genético será validado pela determinação remota da pressão arterial em amostra de menor e maior risco genético (decil inferior vs. decil superior). O grande conjunto de informações sobre a pressão arterial coletada por sensores vestíveis por período de 7 dias permitirá a descoberta de novos biomarcadores associados a hipertensão arterial. Em conjunto, as informações geradas serão incluídas em algoritmos clínico-epidemiológicos em uso para aumentar sua eficácia e o seu poder preditivo necessário para o desenho de estratégias antecipativas sobre uma doença prevalente e de alta morbimortalidade.
Objetivos do Plano Nacional de Saúde aos quais o projeto se vincula:
O projeto busca estratificar indivíduos com base no risco genético para doenças complexas, podendo assim traçar perfis que impactem na formulação de políticas públicas que aumentem a eficiência do SUS, além de capacitar profissionais de saúde da atenção primária para o uso da Medicina Genômica e Saúde de Precisão na prática clínica. Essa capacitação de RH proporcionará a possibilidade de implantação e desenvolvimento de registros permanentes de famílias com suspeita de agregação familiar de DCNT nos Centro participantes, o que viabiliza planos de prevenção primária e secundária dirigidos.
Principais benefícios ao SUS:
Oncologia:
Serão avaliados homens ou mulheres com idade igual ou superior a 18 anos, não aparentados entre si, com diagnóstico atual de câncer de mama, próstata ou colorretal; além dos familiares de primeiro ou segundo grau (pais, irmãos, avós e tios) de ambos os sexos com idade igual ou superior a 18 anos. Após a construção e análise do heredograma, dois familiares serão convocados para a coleta de sangue.
Ao todo, serão sete centros participantes, sendo dois na região Norte, três no Nordeste, e um no Centro Oeste, Sudeste e Sul.
Para o desenvolvimento das competências específicas, os enfermeiros e médicos dos centros participantes com recrutamento de pacientes, participarão do curso Medicina Genômica e Saúde de Precisão. São cursos que utilizarão um modelo colaborativo de aprendizado, com o uso de ferramentas colaborativas (blog e fóruns) e a construção do conhecimento realizada em conjunto com os alunos. Os cursos serão realizados na modalidade de educação a distância.
Cardiopatias congênitas:
A população será composta por indivíduos com diagnóstico clínico de uma das seguintes doenças: cardiomiopatias, arritmias, dislipidemias, aortopatias, cardiopatias congênitas e RASopatias. Serão levantados dados e amostras de 2200 pacientes com suspeita de doença cardiovascular com base genética e 3000 familiares para rastreamento familiar em cascata. Os pacientes serão captados em 10 centros especializados.
Cardiologia populacional:
Será utilizado o escore de risco poligênico (poligenic risk score – PRS) para estratificar o risco de doenças cardiovasculares como a hipertensão arterial em amostra de conveniência de 2500 membros da Polícia Militar de São Paulo. A vantagem desta amostra é que os indivíduos estão ligados ao sistema de saúde da PM, integrado ao SUS, facilitando a abordagem e acompanhamento do grupo.
Os indivíduos do decil superior e inferior de risco genético para hipertensão arterial terão a pressão arterial e a frequência cardíaca monitorados remotamente e de maneira contínua por 2 períodos de 1 semana com intervalo de pelo menos 6 meses entre as medidas. Isto permitirá identificar novos biomarcadores associados ao risco genético além da identificação de indivíduos com aumento de pressão arterial (diagnóstico) ou sob tratamento que requeiram ajuste da medicação.
Qualificação de profissionais de saúde em Saúde de Precisão:
Será voltada a agentes comunitários, enfermeiros e médicos. Para as equipes dos centros que serão responsáveis pela inclusão de pacientes e familiares nos subprojetos 1, 2 e 3, será oferecido o programa de treinamento com o desenvolvimento de competências básicas e específicas. Essas competências possibilitam o recrutamento de pacientes, coleta de amostras e orientação dos indivíduos e familiares a respeito do risco genético. A qualificação técnica será destinada aos profissionais da atenção primária.
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